terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Neorama



De sabiás ressabiados às câmaras de ar gélido,
Pus-me ao colóquio pessoal.
Defrontei-me com toda sorte de fauna
Urbanos ou não, estavam lá eles
Intrépidos e escarrados, como há de ser a lei - qual delas?
Papagaios, pivetes, pandemônios.
Todos ali, cinéticos, pelo furor de ser,
Regados a corredeiras de sarjeta e fuligem.
Entro em pânico ao reparar:
Com que orgulho o fazem,
Se por dentro desfalecem,
Feitos esses mosquitos perenes de Janeiro?
Arbitrariamente, ignoro, mas sei que com eles conjugo.
Ao chegar à fortaleza de balaústres impávidos,
Desconcerto-me em questão:
Para que precisam de tantas emperiquitações?
Medo, inquietação, solidão?
Sem tempo a perder, recorri àquelas antigas memórias.
Por que te moves inquieto?
Onde encontras afago?
Hás de viver afônico?
Num estalo, encontrei a quem perguntar.
Voltei-me ao lugar donde vim,
Ao mesmo assustado e ressabiado sabiá,
Cantando, indiferente às trombetas ensurdecedoras,
Tão solene, acabara de construir sua morada,
Ao pé de jambolão, na esquina,
Onde havia amarrada a faixa,
De dizeres micro e lacônicos:
“Agradeço a Santo Expedito pela Graça Alcançada”


Escrito em 20/08/2007

Nenhum comentário: